Estigma de origem: preconceito racial

Estigma de origem: preconceito racial

Aqui, vamos compreender a condição de estigmatizado pela raça e também analisar o processo de produção do preconceito racial.

Estigma e estereótipo

O estigma (marca) daquele que sofre o preconceito racial é a cor da pele. Os estereótipos (características rígidas) são de pobres, ladrões, bons atletas, entre outros.

Contexto histórico e social de produção da condição de anormalidade

Na análise do estigma do negro, a cor da pele é a característica determinante, seguida do cabelo, conforme exemplifica a tirinha a seguir. Nas relações mistas entre negros e não negros, os estereótipos negativos têm predominado e orientado os comportamentos.

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No Brasil, o preconceito racial contra negros muitas vezes não é reconhecido ou é visto como algo sem intencionalidade – “era uma brincadeira, foi só uma pergunta…” Porém, devemos analisar uma das associações regularmente feitas entre ser negro e macaco. Reitera-se, isto não é brincadeira, não é mal entendido, é racismo, discriminação! Remete a uma associação que tentava provar a evolução da espécie, considerando-se o negro como um intermediário entre o homem branco e os macacos.

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Ota Benga, um pigmeu congolês, foi levado para os EUA em 1904 por missionários escravagistas após ser capturado em sua aldeia e sua esposa e filhos serem assassinados. Foi exibido em mostras antropológicas quando chegou aos EUA. Em 1906 ficou em exposição no Zoológico de Bronx, em uma jaula de macacos, pois fazia parte de uma mostra sobre a evolução da espécie. Era apresentado como a forma mais baixa de desenvolvimento humano. Após protestos da comunidade religiosa negra, a exposição foi interrompida. Trabalhou como faxineiro em orfanato para crianças negras e em uma fábrica de charuto. Quando perdeu a esperança de retornar ao seu país, em 1916, aos 32 anos, suicidou-se. (https://racabrasil.uol.com.br/colunistas/a-historia-de-ota-benga/2918/ )

No Brasil, podemos identificar dois mitos que orientam a compreensão do racismo: Democracia Racial e Ideal de Branqueamento. Entende-se que o mito da Democracia Racial tem como intuito negar o preconceito em relação aos negros, apoiando-se em ideias enganosas, como, por exemplo, de que somos um povo miscigenado, por isso somos cordiais. Para verificação de que é um mito a Democracia Racial, podemos nos apoiar no colunista Negro Belchior ao propor o “Teste do Pescoço”: (https://negrobelchior.cartacapital.com.br/racismo-no-brasil-faca-o-texte-do-pescoco/).

Andando pelas ruas, meta o pescoço dentro das joalherias e conte quantos negros/as são balconistas;

Vá em quaisquer escolas particulares, sobretudo as de ponta como; Objetivo, Dante Alighieri, entre outras, espiche o pescoço pra dentro das salas e conte quantos alunos negros/as há. Aproveite, conte quantos professores são negros/as e quantos estão varrendo o chão;

Vá em hospitais tipo Einstein, Sírio Libanês, enfie o pescoço nos quartos e conte quantos pacientes são negros, meta o pescoço a contar quantos negros médicos há, e aproveite para meter o pescoço nos corredores e conte quantos negros/as limpam o chão.

Quando der uma volta num Shopping, ou no centro comercial de seu bairro, gire o pescoço para as vitrines e conte quantos manequins de loja representam a etnia negra consumidora. Enfie o pescoço nas revistas de moda, nos comerciais de televisão, e conte quantos modelos negros fazem publicidade de perfumes, carros, viagens, vestuários e etc.

Vá às universidades públicas, enfie o pescoço adentro e conte quantos negros há por lá: professores, alunos e serviçais;

Meta o pescoço nas cadeias, nos orfanatos, nas casas de correção para menores, conte quantos são brancos, é mais fácil;

Gire o pescoço a procurar quantas empregadas domésticas, serviçais, faxineiros, favelados e mendigos são de etnia branca. Depois pergunte-se qual a causa dos descendentes de europeus, ou orientais, não serem vistos embaixo das pontes ou em favelas ou na mendicância ou varrendo o chão; (…)

Podemos ter o argumento de que os negros não conseguem aproveitar as oportunidades que lhes são oferecidas, seja por qual motivo for, mas neste raciocínio a crença de que existem oportunidades para todos está desarticulada com a proposta do teste acima.

Ampliamos a argumentação discutindo o outro mito de Ideal de Branqueamento. Não podemos esquecer que ao longo de três séculos foram trazidos ao Brasil, na condição de escravos, em torno de 4 milhões de negros da África. No pós-abolição da escravatura (1888) em trinta anos vieram para o Brasil 3,9 milhões de imigrantes europeus. O intuito era apagar a presença do negro na sociedade brasileira, tentando consolidar um ideal de superioridade. 

 

Finalizando

Como herança temos um processo de hierarquização das raças e dos padrões de beleza. Não há nenhuma fundamentação científica para o preconceito racial, é uma construção histórica e cultural. 

O preconceito na escola é uma questão pedagógica que precisa ser enfrentado e debatido entre adultos e crianças.

Saiba Mais

Leia os 2 textos abaixo da colunista Rosely Sayão, sobre o tema: “Escola e o Preconceito” (2010) – faz uma reflexão acerca do pedido de uma criança que não quer mais ser negra porque na escola sempre é o bandido nas brincadeiras. https://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq0709201012.htm

“Você tem preconceito?” (2015) – discute a afirmação de que uma criança tem cabelo de pobre e suas implicações para as relações na escola. https://www1.folha.uol.com.br/colunas/quebracabeca/2015/10/1692507-voce-tem-preconceito.shtml

 


Referências

PINSKY, Jaime (org.). 12 Faces do Preconceito. São Paulo: Contexto. (Biblioteca Virtual Pearson)

SARZEDAS, L.P.M.  e YAZLLE, E.G. Subjetividade e relações étnico-raciais: a criança negra na escola. In: SOUZA, M.P.R. (org) Ouvindo crianças na escola: abordagens qualitativas e desafios metodológicos para a Psicologia. São Paulo: Casa do Psicólogo: 2010.