Ética e direitos humanos: direcionamentos práticos – Parte 1/2

Ética e direitos humanos: direcionamentos práticos – Parte 1/2

Nesta reflexão, vamos analisar como as concepções teóricas da ética e dos direitos humanos podem se desdobrar em ações no interior das práticas educativas. E também anunciar alguns direcionamentos práticos a partir de nossas reflexões.

Para sermos consequentes com a defesa que estamos fazendo, é preciso apresentar um primeiro desdobramento prático das questões relativas à ética e aos direitos humanos: a busca por uma educação que promova, intencional e conscientemente, a aprendizagem e o desenvolvimento dos estudantes. De acordo com Delari Júnior (2013), a demanda central da qual se ocupa o ato educativo é possibilitar a transmissão/apropriação da cultura pelas novas gerações a partir das relações sociais constituídas com as gerações predecessoras.

No caso da educação escolar, ao nos referirmos à cultura que deve ser socializada, estamos nos referindo aos conhecimentos científicos, filosóficos e artísticos acumulados pela humanidade. Diante disso, passa a ser a função social da escola organizar condições para que todos os estudantes se apropriem desses conhecimentos.

Dito isso, buscaremos apresentar alguns elementos que podem se tornar referências práticas, princípios, orientadores para o processo de organizar intencionalmente um ensino que alcance como resultado a aprendizagem e o desenvolvimento dos estudantes.

Dessa forma, a discussão que faremos a seguir possui o objetivo de orientar, do ponto de vista prático, caminhos possíveis para a objetivação dos conceitos aqui apresentados.

O primeiro ponto que desejamos apresentar diz respeito ao fato de que – para organizarmos intencionalmente um ensino que promova o desenvolvimento psíquico dos estudantes – é preciso que tenhamos clareza sobre como se dá esse processo e sobre quais são as necessidades das crianças nas diferentes fases de seu desenvolvimento. Dessa forma, torna-se essencial que os profissionais da Educação possam discutir, debater e se apropriar da concepção de desenvolvimento humano que orientará as suas atividades pedagógicas.

Para tanto, é essencial que esses profissionais prossigam com sua formação a respeito do desenvolvimento infantil nos momentos posteriores à sua formação inicial. Ou seja, acreditamos ser essencial que existam momentos de formação em serviço tanto para os professores como para os gestores.

Em nossa concepção, é essencial que nesses espaços se possa discutir sobre a concepção de desenvolvimento humano e infância que orientará o trabalho a ser desenvolvido pela equipe pedagógica, deixando esse conteúdo de ficar aprisionado apenas nos documentos oficiais da escola nos quais comparecem, geralmente de forma esvaziada, como a escola compreende o desenvolvimento infantil.

Dessa forma, a questão do desenvolvimento humano deve passar a se constituir como objeto de análise da formação dos profissionais, formação esta que, a nosso ver, deve ter como base a realização da atividade de estudo entre os professores e gestores, pois como podemos organizar um ensino que promova a atividade de estudo das crianças se os profissionais da escola não compreendem o valor e não vivenciam tal atividade?

A outra questão que pretendemos explicitar é a importância de mantermos um olhar pautado na historicidade dos fenômenos junto aos quais trabalhamos, pois se entendemos a ética como um exercício reflexivo, é essencial que busquemos bases concretas e objetivas para orientar essa reflexão. Dessa forma, buscar conhecer a história da Educação, das legislações que a rege e atravessa, dos sujeitos com os quais trabalhamos, da escola em que atuamos, da comunidade em que estamos inseridos, dos conceitos teóricos que pretendemos ensinar, enfim, explicitar a historicidade dos fenômenos humanos e sociais constitui-se como um princípio orientador de uma prática ética e crítica no contexto escolar.

Por fim, retomamos a questão orientadora de nossa última unidade didática: o coletivo como dispositivo no trabalho pedagógico, pois as questões aqui apontadas não podem se efetivar se os profissionais da educação vivenciam e percebem seus pares, colegas, alunos, familiares e comunidade como “impedimentos” para a consecução de sua prática profissional.

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Referência

DELARI JÚNIOR, A. Princípios éticos em Vigotski: perspectivas para a psicologia e a educação. Nuances: estudos sobre Educação. v. 24. n. 1. 2013.